Autora: Drª. Sofia Sirage (Médica-Veterinária na PetDoctors Lusíadas)

 

Dieta BARF

A dieta BARF, que tem ganho cada vez mais popularidade entre tutores, tem riscos associados. Conheça-os neste artigo.

 

✅ BARF (Biologically Appropriate Raw Food) ou RMBD (Raw Meat Based Diets).

 

 

👉 Em que consiste? Estas dietas consistem em carne crua, órgãos (rins, fígado, etc), ossos (inteiros ou moídos) e cartilagem, complementando a refeição com vegetais e ovos crus.

👉 Principal objetivo? Têm como principal objetivo imitar o que o cão comeria na natureza, sendo por isso considerada uma opção natural.

 

Mas…

👉 ATENÇÃO: devemos ter em conta que os nossos animais de companhia já não são animais selvagens, passaram por um processo de domesticação de milhares de anos.

O que o seu animal come está intimamente ligado à sua saúde, por isso devemos garantir que a alimentação que lhe fornecemos, é a que trará mais benefícios para a sua saúde.

 

Assim sendo, temos de ter em conta os principais fatores desta dieta:

 

✅ 1. Dieta não equilibrada

 Vários estudos realizados com dietas preparadas em casa ou adquiridas comercialmente relatam múltiplas deficiências nutricionais. As principais são a falta de cálcio, fósforo (que pode levar a fraturas ósseas e problemas dentários), potássio e zinco.

É muito importante ter em consideração que o efeito negativo da deficiência em nutrientes aparece geralmente a longo prazo.

 

✅ 2. Risco de infeções        

Estudos com evidência científica (*1) demonstram que esta dieta à base de carne crua pode transmitir parasitas e bactérias (salmonela, listeria, e.coli…) responsáveis por diversas doenças. Algumas delas podem mesmo ser transmitidas dos animais para o ser humano, o que é considerado uma zoonose. Os tutores podem contrair doenças pelo contacto com o seu animal, com a comida, com os utensílios ou até com as fezes contaminadas.

Os últimos estudos demonstram que os animais podem mesmo ser infetados por bactérias resistentes a antibióticos. O que aumenta o perigo para a saúde pública. Portanto, torna-se imprescindível estar atento aos riscos inerentes a estas dietas.

 

✅ 3. Risco de problemas digestivos  

A ingestão de ossos pode causar fraturas nos dentes durante a mastigação e obstruções a nível do aparelho gastro- intestinal. Em casos mais graves, podem ocorrer perfurações internas, que podem levar à morte do animal.

Antes de adotar por um tipo de alimentação natural, consulte um veterinário especialista em nutrição, para que este possa ajudar a delinear um plano alimentar adequado às necessidades do seu fiel companheiro.

Considerações Finais:

 Devido ao potencial risco de infeções, a alimentação crua não é recomendada para animais que estejam a fazer quimioterapia ou que tenham doenças que afetem o sistema imunitário.

Tutores com sistema imunitário comprometido ou que contatem com pessoas com maior risco de contrair infeções (crianças pequenas, idosos, doentes imunodeprimidos) devem estar conscientes dos riscos acrescidos de infeção que esta alimentação pode trazer. Por isso a utilização de dietas BARF não é recomendada nestes casos.

Também não é de todo indicada para animais jovens em crescimento. Uma proporção de cálcio e fósforo incorreta pode provocar deformações ósseas e problemas de crescimento. Nem indicada em casos de insuficiência hepática e/ou renal.

Animais que tenham este tipo de alimentação devem fazer análises e controlos periódicos médico-veterinários para garantir que não existe nenhuma deficiência que precise de ser abordada.

 

 

(*1) “Zoonotic bacteria and parasites found in raw meat-based diets for cats and dogs”

  1. Freek P J van Bree, BSc1,
  2. Gertie C A M Bokken, BSc1,
  3. Robin Mineur, BSc2,
  4. Frits Franssen, PhD2,
  5. Marieke Opsteegh, DVM, PhD2,
  6. Joke W B van der Giessen, DVM, PhD, DipECVP2,
  7. Len J A Lipman, DVM, PhD, DipECVPH1 and
  8. Paul A M Overgaauw, DVM, PhD, DipACVM1